Na faculdade de Odontologia, vez por outra, precisamos trabalhar em duplas.
De um modo geral, as duplas são de escolha. Ás vezes são impostas.
Na cadeira de Prótese total eu tinha como dupla, a Dra Sibele. Uma figura como poucas. E de pensar que eu escolhi!
Pra quem não sabe, Protese Total é dentadura e pra ser bem confeccionada, necessita de vária etapas. Cinco pelo menos.
Para os estudantes este tempo dobra, pq precisa a repetir algumas fases, pela inexperiência.
Tem também o fato de as consultas na faculdade não serem seqüenciais. Provas, aulas, férias, etc podem fazer com que o intervalo entre consultas seja longo.
Para nossa dupla foi designada uma paciente de aproximadamente 45 anos edêntula total (sem dente nenhum), para fazermos as “dentaduras” superior e inferior. Ótimo, pra quem não sabia fazer nem uma, que dirá duas.
Bora lá!
Anamnese, exame clinico e moldagens (sim no plural). Alginato, godiva de baixa fusão, pasta zinco enólica e todas as repetições necessárias.
Rolete de cera, curva de Spee, linha dos caninos e do sorriso, seleção do formato e cor dos dentes.
Prova da montagem e estando tudo bem: Acrilização
Fizemos todos os passos sem tropeços, afinal, meu diploma de Prótese tinha que servir pra alguma coisa.
E como tudo nas clínicas, a nota da Disciplina estava condicionada a entrega do trabalho.
O tal dia chegou.
Já eram quase 11h da noite, (eu trabalhava o dia todo), estávamos cansadas e ansiosas. Desse dia dependia nossa aprovação.
Entregue as próteses, analisamos a oclusão e se estava machucando. Tudo OK!
Chegou a hora da paciente avaliar o trabalho.
Ela levou o filho (???) pra ver.
Ficou alguns minutos olhando o espelho e fazendo aquelas caretas clássicas. Caretas que ela nunca fará usando a prótese, mas quer “testar”.
Era a clássica paciente de Total.
Usava a mesma há 15 anos. O Incisivo Central Sup. tinha mais super bonder que resina, e a inferior estava partida em três pedaços. Fora o tártaro de estimação e o esverdeado causado pela bala pra enganar o mau hálito.
Mas ela continuava lá. Micagens, caretas e a clara demonstração de que algo estava errado.
A clínica já estava quase vazia, e os colegas rodeavam a baia pra ver o que estava errado com a PT da dupla Célia/Sibele.
A paciente: - Eu não gostei da cor! (mas havia sido feita prova) Eu queria um beginho (???)
- Meu lábio ta torto (ela tinha vício postural)
- A de baixo ta mexendo (Ahã)
Tudo foi revisto e nada encontrado. O professor observava de longe e até o filho dela dizia: Tá bom mãe!
Mas todo mundo tem um limite e o da Sibele chegou.
- D. Elia (era o nome dela), nós fizemos tudo o que se pode fazer em termos de prótese total, funcionalmente ela está OK. Se estiver errada, o professor mandará fazer tudo novamente, mas não vai adiantar, porque no seu caso, só o Pitanguy (cirurgião plástico) resolve.
Ficou um silêncio sepulcral! Todos sumiram. Parecia que tinha caído uma bomba.
Eu pensei: Ferrou! Vamos ser reprovadas!
Mas acho que a D. Elia também pensava assim.
Aceitou as próteses e nós fomos aprovadas. Até hoje eu acho que a Sibele falou o que o professor tinha vontade, mas não podia falar.
Vai me dizer que vc já não teve esta vontade???
Eu trabalho com a Dra. Sibele até hoje, e ela ainda me prega sustos, mas eu já estou escaldada.
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