Minha avó materna, Maria das Dores, era uma pessoa seca, amarga.
Casamento infeliz, separação numa época que isso marcava a pessoa.
Ela vivia de casa em casa. Pra mim, quando criança, de repente, minha vó surgia.
Cheia de sacolas, trazia sempre um docinho. Muito católica, benzia os netos.
Ficava alguns dias. Dormia na sala e, novamente, de repente, ia embora. Nunca soube pra onde.
Ela foi minha primeira paciente. Ainda nem era formada. Pra ela tava tudo bem. Ser sua neta, quase dentista, era o bastante.
Ia me encontrar no consultório onde eu trabalhava de auxiliar e que meu chefe tinha liberado pra eu começar a fazer uns OZE na hora do almoço.
Me levava um lanchinho. Ovos cozidos, por exemplo.
Ainda que não dissesse, tinha muito orgulho de mim.
Depois de anos de batalhas judiciais, ela recebeu uma casa do meu avô. Agora ela tinha um endereço.
Lembro do dia que ela fez lasanha pra nos receber na casa nova.
Aproveitou pouco.
Adoeceu e precisou ficar com as filhas (minha mãe e uma tia).
Fiz nela, algumas injeções, que ela dizia não sentir nada. Tenho minha dúvidas.
Ela faleceu e não foi a minha formatura.
Em corpo, porque em espirito, eu tenho certeza que ela estava lá.
Com minha avó paterna, Dona Elide, morei quando criança.
Era ela que colocava os tampões nos óculos meu e da minha irmã, todas as tardes pra corrigir a vista preguiçosa.
Depois da sessão da tarde tinha o lanche, café com leite e farinha de rosca. Esquisito, mas delicioso. Ainda hoje este sabor me transporta para aquela época. Inicio dos anos 70. Noutras tardes era mingau de maizena. Tudo muito light como se pode ver.
Comi muita salsinha e hortelã da horta do quintal, como comidinha nas brincadeiras de casinha.
Bonachona, respondia quando a chamavam de preguiçosa: "O que eu feis eu feis. Quem quisé agora que faça!"
Nesse 26/07, dia dos avós, minha homenagem a todos os vovôs e vovós, em especial as dos meus filhos
D. Cidinha e D. Ruth.
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